sábado, 15 de agosto de 2015

Uma soteropolitana na cidade Imperial






Janaina em frente ao Museu Imperial


Meu nome é Janaína, tenho 37 anos, sou professora de Sociologia e advogada. Conheci Petrópolis em Julho de 2012, quando fui visitar meu namorado que há três meses havia se mudado para a cidade por ter aceitado uma proposta de trabalho.

O namoro virou noivado e o casamento aconteceu há quase 1 ano. Então..., vim morar em Petrópolis, uma cidade turística, linda, organizada, limpa, não tão pequena como se mostra a primeira vista, pois tem 310 mil habitantes (mais ou menos o que tem Vitória da Conquista na Bahia). Porém, em termos territoriais, é maior que Conquista, abrange 8 distritos, entre eles, o de Itaipava. É a condição geográfica da cidade que faz com que as ruas sejam estreitas, tenham muitas curvas fechadas, ladeiras totalmente íngremes, e bairros inteiros escondidos pela serra. Ainda estou me adaptando com essa estrutura física de Petrópolis, pois é completamente diferente do que estava acostumada, foram 36 anos morando numa cidade litorânea, cujas ladeiras não parecem ladeiras quando comparadas com as daqui..., é incrível ver como as pessoas sobem tão alto para construírem suas casas e viver. 

Devo confessar que não gosto das curvas, a depender da velocidade e onde o carro ou ônibus esteja, fico tonta e às vezes enjoada.

Em relação ao frio, venho suportando-o bem até o momento, apesar de afirmarem que normalmente é agosto o mês com as temperaturas mais baixas. Não gosto de frio, por isso sempre foi uma preocupação quando resolvi morar aqui. Para piorar, moro em um dos bairros mais frios e úmidos da cidade. Onde tem muita neblina e serração (mas os petropolitanos chamam de “ruço”). É muito estranho para mim estar andando nas ruas e começar a neblinar de tal maneira que não consigo mais enxergar um palmo a minha frente. 

Ainda sobre o tempo, acho bastante curioso como aqui podemos ter mais de uma estação do ano no mesmo dia, muda muito rápido de calor para frio e novamente o calor. Com direito a tempestades, trovões e chuvas que parece surgir do nada, como um dia, quando o sol e o calor lotava a piscina do condomínio e de repente estavam todos de bota e jaqueta. Isso tudo, no mesmo dia.

Acho incrível a capacidade de adaptação do ser humano, pois apesar de terem tidos dias onde o frio aqui me paralisou, todas as vezes que volto a Salvador, reclamo do calor, parece que não me acostumo mais, e no geral, descobri que estava enganada quanto a não gostar do frio. Entre ele e o calorzão, fico com a primeira opção. Se não viesse conviver com o frio, não teria tido oportunidade de descobrir isso na prática e de ter tido oportunidade de mudar de opinião após conviver com os dois climas.

As pessoas são muito reservadas, caladas, discretas e nunca falam de suas vidas e nem perguntam nada sobre você. 

Antes de vir morar em Petrópolis, fui conhecendo a cidade aos poucos, passei muitos feriadões e férias aqui, o que me ajudou na adaptação quando me mudei. A impressão que tinha da cidade sendo tranquila, só se confirmou com o tempo. As pessoas são muito reservadas, caladas, discretas e nunca falam de suas vidas e nem perguntam nada sobre você. Sou uma pessoa muito falante, então estranhei muito isso no início. Porém, devo deixar claro que os petropolitanos são extremamente gentis e educados. Sempre que necessitei de informação, muitas vezes nem precisei perguntar nada diretamente, e recebia a ajuda, pois eles gostam de serem úteis, de orientar. São disponíveis nesse sentido. Antes de vir morar aqui, sempre associava ser fechado, reservado, com falta de simpatia, aqui descobri que são coisas diferentes. É possível ser muito simpático sem ser extrovertido, aberto. 

Não me sinto pronta para avaliar a capacidade dos petropolitanos em fazer novas amizades, pois eu e meu esposo conhecemos um casal de Santos que veio morar aqui na mesma época que meu esposo, pela mesma razão (profissional) e descobrimos uma afinidade muito grande, por isso saímos juntos praticamente todos os fins de semana. 

Através deles conhecemos alguns casais da cidade, todos muito simpáticos, mas não estreitamos nenhuma amizade até o momento, além do casal mencionado. Acredito que isso vá ocorrer quando eu começar a trabalhar, pois sou muito sociável e gosto de conhecer pessoas, ao contrário de meu marido que é um mineiro extremamente reservado, preferindo sair de casa apenas para viajar, um jantar ou barzinho de vez em quando.

Sinto muita saudade da culinária baiana, sou apaixonada por todas as comidas da minha terra natal, e isso foi difícil de acostumar.

Por falar em jantar, quero falar sobre a gastronomia..., Petrópolis é muito perto de Minas, há 1h de carro chega-se a Juiz de Fora, mas antes disso já é ultrapassada a fronteira entre os dois Estados. Por essa razão, a influência da culinária e produtos mineiros aqui é enorme. Há supermercados com nomes que remete a Minas, muitos restaurantes mineiros, bares que vendem torresmos, e o pão de queijo você encontra em qualquer esquina. O distrito de Itaipava é o grande centro gastronômico da região, lá tem restaurantes maravilhosos de todas as especialidades, desde espanhóis, portugueses até italianos. São caros, como em todas as regiões muito turísticas. Particularmente não sou muito fã do tempero mineiro, acho que não temperam muito as comidas como fui acostumada em Salvador. Sinto muita saudade da culinária baiana, sou apaixonada por todas as comidas da minha terra natal, e isso foi difícil de acostumar. Eu tinha o hábito de tomar café com banana da terra ou aipim, aqui são difíceis de encontrar, caros e com a qualidade e sabor diferentes da Bahia. Era um hábito tão simples que me faz uma falta enorme hoje estando aqui. E a tapioca da feira? A farinha de mandioca? O amendoim do São João..., devo confessar que trago sacolas e mais sacolas de tudo isso de Salvador... , ou peço para alguma visita trazer pra mim. É bom demais, não dá pra viver sem.

Sobre a economia da cidade, ela vive basicamente de comércio. Tem um grande polo industrial de roupas, o que atrai sacoleiras de todo o Brasil. Tem uma rua onde as lojas abrem 6hs da manhã todas as quintas-feiras especialmente para receber esse público. 

Não está sendo fácil para eu encontrar meu lugar ”ao sol” profissionalmente, pois apesar de ter muitas escolas particulares na cidade, e de ter colocado curriculum em quase todas, ainda não consegui trabalho na área. É possível que aproveite a fase para começar um mestrado e me dedique também à nova carreira de advogada. Soube que não está tão saturada ainda essa área por aqui. Espero que não. 

É quase impossível alguém ter seu celular ou bolsa roubada na rua.

Outra coisa que me chamou a atenção aqui, são os baixos índices de violência. É quase impossível alguém ter seu celular ou bolsa roubada na rua. Não conheci ninguém que tenha passado por essa experiência. Só para se ter uma ideia, no ano de 2014, uma empresa de ônibus com 82 carros, registrou apenas 2 assaltos! Em um ano, apenas 2 assaltos..., 

Alguém comentou que na semana do Natal, soube que rapazes estavam abrindo a bolsa no centro da cidade, na rua mais movimentada. Mas isso só na semana do Natal, onde a cidade fica quase intransitável por receber o maior número de sacoleiras e turistas. 

É muito bom se sentir um pouco mais seguro, saber que não precisa deixar de atender o celular no meio da rua, ou colocar a bolsa embaixo do banco do carro porque podem quebrar o vidro e pegá-la na sinaleira.... Comparada a Salvador, é quase que um paraíso de segurança aqui ..., as pessoas andam nas ruas tarde da noite sem medo nenhum. A violência aqui é mais pontual em determinados bairros e ruas afastadas.

Sem dúvidas a melhor parte da minha adaptação na cidade foi a maior segurança que ela me proporciona, a gentileza das pessoas, a prestação de serviço, no geral muito melhor do que eu estava acostumada em Salvador. E a minha maior dificuldade está na culinária e na menor oferta de emprego na minha área, também o fato de ter que me acostumar que a maioria das pessoas, infelizmente, fuma. O cigarro aqui é mais do que comum, entre pessoas de todas as faixas etárias, e para mim que tenho renite alérgica, ter que ficar me desviando na rua da fumaça dos cigarros, não é tarefa das mais agradáveis.

A cidade teve uma colonização alemã, e todos os anos no final de junho e início de julho há uma festa típica dos descendentes dos alemães muito grande, a Bauerfest. O trânsito muda, um dos dias é feriado local, ruas são fechadas, são muitos dias de festa, onde até novas cervejas são criadas especialmente para o evento. Atrai muitos turistas, inclusive alemães ou descendentes destes, vindo do sul do país.

Apesar de a cidade ter predominância de pessoas de pele branca, muitos descendentes de alemães, por causa da colonização, não senti preconceito algum por minha cor, aliás, ao contrário, normalmente recebo elogios. Contraste triste com Salvador, onde já fui descriminada, ainda que a Bahia seja o lugar que abriga mais negros fora do continente africano.

Vale ressaltar, que Petrópolis tem uma gigantesca quantidade de pets shops, veterinários e de serviços para cães (táxi, hotéis, cemitério, etc). Isso me deixou feliz, pois tenho uma cadela e amo cachorros! Por ter concorrência, tudo é mais barato aqui, especialmente a roupa canina, e eu precisei comprar roupas quentes para minha cadela que estava acostumada a andar pelada no calor de Salvador.

O custo de vida para morar em Petrópolis, no geral, é muito alto. Ocorre que, Salvador também tem um dos mais alto custo de vida da região nordeste. Assim sendo, não senti tanta diferença em relação a isso.

Mesmo sendo uma cidade de interior, Petrópolis é muito bem estruturada, aqui se encontra de quase tudo. E o que não tem aqui, basta descer a Serra, em 1h você está no centro do Rio. Petrópolis tem 2 faculdades de medicina, o que atrai estudantes do Brasil inteiro. Além disso, possui 2 universidades particulares de grande porte, e um campus da UERJ com o curso de arquitetura. 

Por fim, convido a todos que venham conhecer a cidade imperial, há muita coisa bonita e interessante para ver e fazer por aqui.


Janaína em frente ao Museu Imperial

Janaína no Centro de Petrópolis

Texto Escrito por Janaína Matos




















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